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Do Alto da Serra Velha

DO ALTO DA SERRA VELHA

   

Partindo-se da premissa que a pintura moderna aconteceu com Cezanne e os cubistas (que romperam com a representação renascentista e com as relações da obra artística com a realidade externa a ela), torna-se ainda estranho para a visão erudita contemporânea contemplar com a ótica da modernidade as visões pictóricas que utilizam técnicas que antecederam o movimento modernista.

A produção pictórica da primeira metade do século XIX europeu (que se estende até as primeiras décadas do século XX no Brasil) foi duramente marginalizada após a sedimentação dos primeiros movimentos de vanguarda no universo artístico brasileiro.
Porém, o realismo de Almeida Júnior e seus “caipiras” sobreviveu na linguagem modernista de Di Cavalcanti. Do tratamento formal superficialmente menos naturalista do modernista persiste, na sua obra, os mesmos tributos à fidelidade realista.


Entretanto, a maldição da “inteligência” contra a qualquer produto artístico advindo da famigerada Academia continua até aos dias que correm. Quais as causas que marginalizaram Almeida Junior, regionalista, em relação à modernista Tarsila do Amaral, por exemplo, francamente inspirada em seu mestre cubista Leger?
Contra a escravidão e contra o império os reformistas brasileiros de fins do século XIX vão se posicionar contra a academia de Belas Artes. A produção repleta de obras idealizadas sobre o país, sua história e sua mitologia vai receber críticas severas que se perpetuam até hoje.


Nos anos vinte e trinta do século passado a ótica artística brasileira vai se dividir entre a visão voltada para as vanguardas europeias de Mario de Andrade e o regionalismo de Gilberto Freyre que vai encontrar reforço na obra de Ariano Suassuna. A continuidade dada a “certo paisagismo brasileiro”inaugurado por Batista da Costa é também ligada às correntes do “retorno à ordem” que poderiam ser definidas por duas caracterizações do Novecento proposta por Lorandi: o Neocezanismo e o Neo-renascimento. Nas paisagens de Milton da Costa e Pancetti aparece visivelmente a influencia da poética cezaniana e anti-impressionista. Já Sigaud por exemplo seria ligado ao Neo- renascimento.


O caminho da paisagem (brasileiro) continua, independente dos rótulos. A natureza se impõe à produção pictórica dos artistas nacionais através dos tempos e dos estilos. Visões surrealísticas, hiper realistas ou naífs acontecem na produção contemporânea para além da ortodoxia de alguns salões que reproduzem, hoje, a ideologia da Exposição Geral de 1879, quando a Academia, muito segurado seu papel como braço artístico do seu império, monta esta exposição com obras exclusivamente de artistas ligados à instituição.


José Iremar Rodrigues Gomes (lima) segue as trilhas das paisagens revisitadas de sua infância. Com um estilo realista que as vezes mergulha no surrealismo, ele ele representa seu universo ancestral de frutos, arvores, nuvens que brincam e desaparecem, as diferentes tonalidades das montanhas: memórias de Serra Velha que ele deixou aos 14 anos de idade.


Lima, como ele mesmo afirma, não pediu pra ser artista, mas também não se recusou. Sua primitiva produção, tecnicamente invejável, sai de uma sai de certa desorganização dos elementos que lhe chamam atenção e que ele registra para uma sistematização do olhar de um relato comovente das imagens de um Brasil que poucos conhecem: estranhos aos cartões postais.


Seu pincel registra recantos onde o menino lima deve ter se escondido.           Nada de paisagens óbvias. São imagens de quem se deitava e acompanhava nuvens e suas mutações.


Rodrigues Lima seu nome artístico vai até ao fundo do poço em sua busca sistemática do passado. Lembranças, memórias, explodem em suas cores e em seus registros. São e maracujás em primeiro plano. Folhas e arvores antigas e amigas. Paisagens longínquas de mangas e de abacates palpáveis. Na melhor tradição dos irmãos Grimm as paisagens pulam das telas. Foge dos pintores de Nassau. Não são enciclopédicos seus registros, são existenciais



Madalena Zácara

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